1950 - 1960/Edifício Cultural/Galerias/Interbau

Haus der Kulturen der Welt – “Casa das Culturas do Mundo”

Haus der Kulturen der Welt – “Casa das Culturas do Mundo” |
Edifício para eventos culturais com exposições de arte contemporânea, concertos e debates |
Arquiteto: Hugh Asher Stubbins (1912 – 2006) |
Ano: 1953 – 1957

1 – Reconstrução e modernização |
Escritório: Dyckerhoff &Widmann AG, Munique |
Arquitetos: Hans-Peter Storl e Wolf Borchardt |
Ano: 1984 – 1987

2 – Reconstrução e modernização |
Escritório: GAP – Gesellschaft für Architektur und Projektmanagement mbH |
Ano: 1984 – 1987

O Kongresshalle (hoje Haus der Kulturen der Welt – Casa das Culturas do Mundo) é um edifício que se destaca pela evidência e intensidade com que reflete a articulação da arquitetura para fins políticos e propagandísticos nos anos 50, em um momento sensível da Alemanha pós guerra, dividida em dois setores. Enquanto o leste de Berlim se concentrava no mega projeto urbanístico da antiga Stalinalle (hoje Karl Marx-alle), Berlim ocidental, em resposta, promovia uma exposição internacional de arquitetura próximo ao parque central Tiergarten, a Interbau. Ambos os estados intencionavam demonstrar ao mundo as qualidades dos seus regimes através das novas formas de morar. Arquitetos internacionalmente renomados como Le Corbusier, Oscar Niemeyer, Alvar Aalto e Egon Eiermann, foram convidados para colaborar na Interbau. Dentre os edifícios deste evento, o Kongresshalle.

A começar, o Kongresshalle (Sala para Congressos) foi um presente dos Estados Unidos. Deveria simbolizar a liberdade de expressão e representar a relação de amizade entre a Alemanha e a América. Convidados a participar da Interbau com um pavilhão temporário, os americanos se mostraram desgostosos com esta acanhada sugestão. Ao se inteirarem do planejamento de um edifício permanente para eventos, eles se agarraram a essa oportuna possibilidade para uma colaboração mais expressiva. Para financiá-lo foi criada a Fundação Benjamin-Franklin, cujo nome foi adotado pelo edifício, inicialmente chamado Kongresshalle Benjamin Franklin. Sua finalidade primordial seria oferecer espaço para trocas internacionais de ideias e pensamentos, inclusive com os países do Pacto de Varsóvia.

O arquiteto solicitado para tal responsabilidade foi Hugh Asher Stubbins, um americano com influências profissionais alemãs, pois, entre outras experiências, tinha sido assistente de Walter Gropius na universidade de Harvard.

Como visibilidade é essencial em um propósito propagandístico, o Kongresshalle deveria ser construído em um local de destaque no contexto urbano. Berlim contava com um plano diretor, Hauptstadt Berlin (Berlim Capital), que considerava a reunificação da Alemanha em um futuro próximo. Segundo este plano, o setor governamental estava definido próxima ao parque Tiergarten, na área central da nova capital. Visto que o Kongresshalle encenaria o começo da sociedade democrática e as preferências ocidental pela liberdade, convinha-se a proximidade com os futuros edifícios governamentais, às margens do rio Spree – praticamente na fronteira com o setor adversário e em um eixo com o antigo parlamento ainda em ruínas, o Reichstag. Nas palavras de Stubbins seria uma “brilhante luz de fogo, irradiante na direção leste” (tradução livre).

Stubbins projetou um corpo praticamente quadrado, 90 x 96m e sobre ele o auditório em forma oval. Uma cobertura de duas águas, “flutuante” sobre o auditório, assumiria a função simbólica de exprimir e transmitir a mensagem de liberdade. Pintada de branco para refletir com intensidade a luz do sol durante o dia e à noite a iluminação dos holofotes, este elemento se destacaria naquele cenário ermo da cidade de Berlim ocidental pós guerra.

Segundo a proposta de Stubbins, esta cobertura deveria ter sua estrutura independente do resto da construção. Para tal estaria tencionada por uma estrutura metálica espacial apoiada apenas sobre dois pilares de concreto nas suas extremidades leste e oeste. Avançada para a época sob o ponto de vista técnico-construtivo, esta solução reforçava ainda o propósito de exibir o desenvolvimento da indústria de construção ocidental sob a direção dos americanos.

Os engenheiros alemães, no entanto, foram incisivos em não querer arriscar por não a considerarem suficientemente estável. Exigiram a incorporação de vigas para sua sustentação sobre o volume do auditório que, por sua vez, possuía a sua própria cobertura. Para não comprometer a aparência de independência estrutural da cobertura curva principal, as vigas foram escondidas atrás das paredes do auditório. Este elemento monumental, não mais independente e funcionalmente desnecessário, se revelou como um mero ornamento simbólico.

Estando a forma evidentemente desvinculada da função, Stubbins sofreu severas críticas naquele ambiente dos modernos. O crítico mais ávido foi Frei Otto que, a convite da revista americana Architectural Forum, se encontra com A. Stubbins para um debate (confira no link abaixo). Frei Otto questiona principalmente o custo desmesurado e desnecessário da cobertura, o simbolismo na forma arquitetônica e a falta de relação entre forma e função: “Na realidade, não se pode construir a liberdade de expressão, mas um edifício pode abrigá-la.” “De fato a estrutura da cobertura é secundária. Ela serve apenas para o propósito de realização da forma. A relação entre forma e função não foi nem aspirada.” Sobre estes pontos, Stubbins argumentou que “desde que o homem pintou pela primeira vez nas paredes das cavernas, os símbolos fazem parte da sua natureza … Todo trabalho arquitetural tem um propósito funcional. Mas se fosse a função a única determinante da forma, teríamos uma arquitetura monótona e desprovida de espírito, embora mais prática e científica… Verdade na arquitetura não significa nem a exata revelação da função, tampouco a exata exposição de seus elementos estruturais… A forma, como expressão da função e como consequência da estrutura, tem que estar determinada pela expressão da beleza.”

Voltando ao projeto, o corpo quadrado abriga um programa bem variado: no lado oeste se encontram uma sala de exposição de 1000 m² e um teatro com 400 lugares, ao leste estão uma sala de conferência e as salas da administração, ao norte o restaurante com acesso para um terraço às margens do rio Spree e ao sul a entrada principal com o foyer central. É perceptível uma fluidez espacial adquirida através da conexão aberta entre os vários ambientes internos e destes com as áreas externas através de vedações em vidro. Ao seu redor do corpo oval, sobre o volume quadrado, se encontra mais um terraço, cujo acesso é possível através de escadas externas posicionadas nas 4 fachadas. A escada principal ao sul, generosa, se estende por uma passarela sobre o espelho d’água à frente desta fachada. O reflexo da cobertura neste espelho d’água foi o motivo do apelido dado ao Kongresshalle pelos berlinenses logo após sua inauguração, “Schwangere Auster”(Ostra Grávida).

Em 1980 ocorre o que se temia, parte da cobertura, 600 toneladas de concreto e metal, desaba sobre o terraço e a escada externa (veja fotos no link oficial indicado abaixo). Os cabos de aço da estrutura não suportaram, como se havia suposto, os contínuos movimentos da cobertura. Fissuras no concreto possibilitaram infiltração e oxidação dos cabos acelerando o processo de falha. A “Schwangere Auster” se transformou em “Nudeltopf” (prato de macarrão).

Mais uma vez este edifício foi palco para polémicas: reconstrução da cobertura e reforma das partes danificadas ou demolição. Para o crítico de arquitetura Wolf Jobst Siedler,”essa coisa” deveria ser eliminada, pois “nunca foi nada mais que uma mesa de três pés no parque Tiergarten“, se referindo à falta de sentido deste objeto naquele espaço urbano, centro político e cultural no século 19. No entanto, professores e outros especialistas eram a favor da reconstrução e reforma, mas com novas propostas técnicas, formais e conceituais de uso. Em função da sua representação simbólica, não foi aceito nem apagar a sua história tampouco mantê-lo em ruínas. As obras de reconstrução da cobertura e reforma se iniciaram, porém, apenas em 1984, quatro anos após o desabamento.

O escritório de Munique Dyckerhoff &Widmann AG (arquitetos: Hans-Peter Storl, und Wolf Borchardt) venceu o concurso em 1983 com uma proposta que se aproximava da intenção inicial de Stubbins. Agora, tecnicamente possível, a cobertura foi projetada com a estrutura independente do resto do edifício.

Cumprindo a agenda, o Kongresshalle foi reinaugurado durante o evento de comemoração de 750 anos de Berlim em 1987, apesar das incertezas sobre o seu futuro uso. Desde a construção do novo e gigantesco Centro de Congressos Internacionais de Berlim (ICC Berlin – Internationale Congress Centrum Berlin), em 1979, no bairro Charlottenburg, sua função principal foi perdendo em relevância.

Em 1989, o Kongresshalle passa a abrigar a recém criada Haus der Kulturen der Welt GmbH (Casa das Culturas do Mundo Ltda). Se apropria do seu nome e se torna oficialmente um espaço de representação das culturas não europeias.

No entanto, como no projeto de reforma as instalações e disposições originais foram mantidas, o edifício se encontrava inadequado para receber eventos culturais como exposições, concertos entre outros. Apesar desta constatação, 15 anos ainda foram necessários para que a modernização e adaptação começassem a ser implementados pelo escritório de arquitetura GAP – Gesellschaft für Architektur und Projektmanagement mbH. O projeto se encarregou principalmente das questões relativas à infraestrutura (elétrica, aquecimento do ar etc.), foram poucas as intervenções arquitetônicas. O foyer sofreu uma “limpeza”. A livraria foi transferida para o subsolo e, com as paredes pintadas de vermelho, este novo elemento se distingui da antiga arquitetura. Os novos equipamentos visam proporcionar a flexibilidade do espaço. Por exemplo, orifícios no rebaixamento do teto facilitam a fixação de materiais para instalações de exposições. O foyer não é mais, como planejado por Sttubins, um lugar de passagem, mas sim um espaço convidativo para se estar.

Hoje a Casa das Culturas do Mundo é um espaço multi e intercultural, onde ocorrem fóruns sobre arte contemporânea e debates críticos. Nela, artistas, acadêmicos, especialistas de todo o mundo exploram novas ideias, e compartilham com o público internacional em Berlim.

Endereço:
John-Foster-Dulles-Alle 10
10557 Berlim

Como chegar:
Ônibus 100 – estação Haus der Kulturen der Welt

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Horários de funcionamento:
De segunda a domingo: de 10:00 às 19:00 hs

Link:
Site oficial do HKW
Architectural Forum 1958 – PDF